A história de uma equipe nacional de futebol na Itália surgiu com a fundação da Federazione Italiana Football, em 1898. Antes e depois da fundação propriamente dita, vários clubes foram formados no país, que participou da fundação da FIFA, tornando-se afiliado em 1905. Quatro anos depois, uma mudança: por votação, o nome da federação foi alterado para o Federazione Italiana Giuoco Calcio que persiste até hoje.
E, enfim, veio o primeiro jogo da seleção italiana: no dia 15 de maio de 1910, uma goleada por 6 a 2 sobre a França inaugurava a história da Squadra Azzurra - apelido dado por sua notável camisa azul. O curioso da partida é que, ao final, com o resultado positivo, os torcedores atiraram maços de cigarro aos jogadores. Outra particularidade: no time comandado por uma comissão técnica (um fato pitoresco, que foi comum na seleção italiana até a década de 1960), não estavam presentes jogadores do Pro Vercelli, o maior time italiano da década.
Em 1912, surgiu na seleção aquele que, talvez, foi o mais importante personagem da primeira fase de sua história: Vittorio Pozzo. Vindo de uma família abastada, Pozzo chegou a atuar por Grasshopper, na Suíça, e Torino, até que assumiu pela primeira vez a Itália no já citado 1912. Depois, a equipe foi sendo comandada por comissões técnicas, até 1924, quando Pozzo voltou.
Mas o nativo de Turim também não durou, e seria sob o comando de Augusto Rangone que a equipe conseguiu sua primeira aparição de sucesso: a medalha de bronze no torneio olímpico de futebol de 1928, nos Jogos de Amsterdã, conquistada com uma goleada por 11 a 3 sobre o Egito. Carlo Carcano comandaria o time dali até 1929, quando Pozzo foi contratado, em caráter definitivo, para treinar a seleção - sem ganhar remuneração.
Recebendo plena confiança do governo, já sob comando de Benito Mussolini, Pozzo teve carta branca para implementar várias de suas ideias, como o "Metodo" - nada mais do que a utilização da adaptação do 2-3-5 que já vinha fazendo sucesso na Inglaterra, com o Arsenal de Herbert Chapman - e o uso dos "oriundi", jogadores nascidos em outro país e descendentes de italianos, que passaram a defender a Azzurra.
Rapidamente, as ideias de Pozzo deram resultado: já em 1930, veio a conquista da Copa Dr. Gerö, torneio pioneiro reunindo seleções da Europa Central. Todavia, houve quedas: em 1932, derrotas para Áustria e Tchecoslováquia levaram Pozzo a mudar a equipe, afastando jogadores como Adolfo Baloncieri, capitão da equipe.
Mas, afinal de contas, o ideário de Pozzo deu certo onde tinha de dar: nas Copas do Mundo. Favorecido por uma boa geração de jogadores, que contava com valores como Angelo Schiavio, Giuseppe Meazza e Raimundo Orsi - além de "oriundi" como os argentinos Attilio Demaria, Luis Monti e Enrique Guaita -, Pozzo levou a seleção à conquista do Mundial jogado em casa, em 1934.
Em 1935, veio nova conquista na Copa Dr. Gerö. No ano seguinte, quando o time chegou para a disputa do torneio olímpico de futebol, nos Jogos de Berlim, a equipe já contava com uma sequência admirável de resultados: desde outubro de 1932, a equipe só fora derrotada por Áustria (2 a 1, pela Copa Dr. Gerö) e Inglaterra, (3 a 2, em amistoso muito concorrido, conhecido como "A Batalha de Highbury").
Para a Olimpíada, Pozzo montou uma equipe que já contava com gente que ficaria para a Copa de 1938, como Alfredo Foni, Pietro Rava e Ugo Locatelli. Além disso, ainda havia apostas como Annibale Frossi, atacante míope encontrado pelo técnico na Serie B italiana. Resultado: medalha de ouro, com vitória sobre a Áustria na prorrogação (com dois gols de Frossi). E o favoritismo para o bicampeonato mundial, em 1938, só era mais solidificado.
E a Azzurra chegou para o Mundial da França, dali a dois anos, com um time bastante fortalecido. Aos veteranos de 1934, como Eraldo Monzeglio e Giuseppe Meazza, somavam-se talentos como Silvio Piola, outro atacante letal na área. E a Itália conquistou o bicampeonato, com a vitória por 4 a 2 sobre a Hungria, na final. Era fato: o trabalho de Vittorio Pozzo levara a Itália a ser consagrada como a seleção de maior sucesso, na época.
Porém, também era fato de que o trabalho de Pozzo contara com bastante apoio do fascismo - mesmo sem ser relacionado diretamente com Mussolini, Pozzo trabalhava com um fascista de primeira hora, o general Giorgio Vaccaro. E, por sugestão de Pozzo, a equipe passara a fazer a saudação fascista, antes dos jogos. Logo, não impressiona que a derrota na Segunda Guerra Mundial tenha representado duro baque para o futebol italiano.
Trabalho derrubado a jato
A Itália continuou fazendo amistosos até 1942. Depois, o recrudescimento da guerra forçou a interrupção, até 1946. Ainda com Pozzo, a seleção passou por uma reformulação. E a base que surgiria daquela mudança seria formada por jogadores que, em sua maioria, vinham do "Il Grande Torino", tetracampeão italiano entre 1946 e 1949.
Dos Grenás saía grande parte do novo time: gente como o goleiro Valerio Bacigalupo, Romeo Menti e, principalmente, o atacante Valentino Mazzola, apontado como o grande talento do futebol italiano no fim da década de 1940. Nem chega a impressionar que a maior goleada da história da seleção tenha saído nessa época: um 9 a 0 sobre os Estados Unidos, no dia 2 de agosto de 1948.
Porém, aquela manutenção relativamente exitosa do trabalho de Pozzo sofreu dois duros golpes em 1949. Nem tanto com a saída do técnico - que tornou-se jornalista do diário La Stampa. Mas principalmente com a tragédia de Superga, acidente aéreo que vitimou todo o Torino que servia de base para a Azzurra. O trauma foi tamanho que a delegação italiana que viajou ao Brasil, para a Copa de 1950, fez o trajeto de navio, com temor de nova queda de avião.
E mesmo que o novo técnico, Ferruccio Novo, tenha conseguido repor o vazio provocado pela ausência dos jogadores do Torino com novos talentos, como os atacantes Giampiero Boniperti e Ermes Muccinelli, ambos da Juventus - que também provinha o goleiro Lucidio Sentimenti -, o time não passou da primeira fase em 1950.
Estava iniciada uma fase de longo ostracismo para a Azzurra. Em 1954, a equipe não conseguiu superar a Suíça, e ficou novamente na primeira fase de uma Copa - ainda que continuasse contando com Boniperti e Muccinelli. Quatro anos mais tarde, um vexame: a equipe sequer passou das Eliminatórias, perdendo a vaga no Mundial para a Irlanda do Norte.
Sob o comando de Paolo Mazza e Giovanni Ferrari (um dos integrantes dos times campeões mundiais de 1934 e 1938), a equipe conseguiu classificar-se para a Copa de 1962. E até tinha um time bem formado: somavam-se aos talentos nativos, como Giovanni Trappatoni, Cesare Maldini e Giacomo Bulgarelli, uma nova onda de "oriundi", como os brasileiros José "Mazola" Altafini e Angelo Sormani e o argentino Omar Sivori. No entanto, nada deu certo novamente, e a equipe não foi páreo para Alemanha e Chile, no grupo 2. Mais uma eliminação na primeira fase.
Em Eurocopas, a situação não melhorava: a Azzurra não participara do torneio de 1960, e fora eliminada pela União Soviética, em 1964. Mas só se viu que tudo chegara a um ponto de mudança necessária em 1966: a eliminação para a Coreia do Norte, na primeira fase da Copa do Mundo, representou talvez o grande vexame da história da seleção italiana. O técnico Edmondo Fabbri tornou-se um pária, e o retorno para o país foi feito debaixo de críticas pesadas. O drama havia se tornado muito grande.
A primeira grande reação
A mudança começou em 1967, com a chegada de Ferruccio Valcareggi para ser o novo técnico. E Valcareggi pôde contar com uma base de jogadores sedenta por reação: Luigi Riva chegava para se unir a Gianni Rivera, Giorgio Ferrini, Sandro Salvadore, Giacinto Facchetti, Tarcisio Burgnich e Bulgarelli.
Deu resultado logo em 1968: com a fase final realizada na própria Itália, a equipe teve sorte nas semifinais, ao ser sorteada contra a União Soviética, após empate em 120 minutos de jogo. E, nas decisão contra a Iugoslávia, após nova igualdade contra a Iugoslávia, com prorrogação, o time fez 2 a 0, em partida de desempate. Era o primeiro título de vulto, após a Copa de 1938.
Prestigiado, Valcareggi conseguiu levar a equipe para a Copa de 1970. E o time novamente teve desempenho bastante honroso: com a mesma geração, passou por desafios como a semifinal histórica contra a Alemanha, e chegou à final contra o Brasil. Foi impossível conquistar o título, mas a autoestima e a fama já haviam sido recuperada.
Todavia, novamente, a geração que reergueu a Azzurra começou a dar sinais de fastio. E, mesmo que tenha feito uma boa campanha nas Eliminatórias, além de bons resultados nos amistosos, o time não foi páreo para Argentina e Polônia, na Copa de 1974. Assim como oito anos antes, uma eliminação na primeira fase fazia com que novos ares fossem necessários.
Já em 1974, logo após a Copa Fulvio Bernardini foi contratado como o comandante de uma nova fase. Mas ele não durou até o ano seguinte. A tarefa de reconstrução ficaria com Enzo Bearzot.
Crise interna. Salva pelo esplendor externo
Bearzot começou seu trabalho com solavancos: teve de encarar uma derrota por 4 a 1 para o Brasil, em 1976 (como na final da Copa de havia seis anos atrás), na decisão do Torneio do Bicentenário dos Estados Unidos. Mesmo assim, conseguiu fazer a transição de gerações, trazendo à seleção gente como Gaetano Scirea, Antonio Cabrini, Marco Tardelli, Roberto Bettega e Paolo Rossi. Foi com eles que a seleção chegou para a Copa de 1978. Não conseguiu grande coisa: ficou na quarta posição, e veteranos como Dino Zoff foram dados como acabados. Mas já era um começo.
Na Eurocopa de 1980, sediada em casa, novamente o resultado foi opaco: apenas uma quarta posição, após derrota para a Tchecoslováquia, na decisão do terceiro lugar. Entretanto, os desempenhos da seleção ficaram em segundo plano, diante da profunda crise de credibilidade por que o futebol transalpino passou, após o escândalo de manipulação de resultados intitulado "Totonero", pela relação com o Totocalcio, a loteria esportiva italiana.
Paralelamente a isso, a imprensa insistia nas fortes críticas contra a seleção. Enzo Bearzot, por sua vez, fortalecia o espírito de grupo dos jogadores italianos, além de estimular um estilo de jogo mais ofensivo do que o tradicional "catenaccio". E foi nesse clima que a equipe chegou à Copa de 1982. Parecia que não daria certo: três empates na primeira fase do Mundial fizeram com que as críticas se tornassem ainda mais virulentas.
Mas a equipe - que contava com boa parte dos que fizeram a renovação para 1978, mais o veterano Dino Zoff - persistiu. Fechou-se ainda mais para o ambiente externo. O resultado: um time bastante determinado, que passou por Brasil e Argentina, no grupo da segunda fase, venceu a Polônia, nas semifinais, e, já com o clima emocional baseado num otimismo quase indestrutível, venceu a Alemanha, na decisão, para conquistar um consagrador tricampeonato mundial. Que ajudou a recuperar o futebol italiano.
Mais uma troca de guarda
A sensação de que Bearzot não conseguiria manter seu trabalho por muito mais tempo ficou forte com a desclassificação nas Eliminatórias para a Eurocopa de 1984. E, para a Copa de 1986, a geração vitoriosa de quatro anos antes - Cabrini, Tardelli, Bruno Conti, Paolo Rossi, Scirea, Altobelli - chegou com vários problemas físicos. E a nova geração, personificada por Gianluca Vialli, não havia conseguido se estabelecer completamente. Resultado: um time irregular, que viu seu caminho na Copa interrompido pela França, que venceu por 2 a 0, nas oitavas de final.
Era hora de mudar. E Bearzot abriu caminho para Azeglio Vicini, que levou o time à Eurocopa de 1988. Vicini conseguiu fazer com que os novatos tomassem conta de seu time: Vialli já tinha a seu lado Luigi de Agostini, Fernando de Napoli, Giuseppe Giannini, Roberto Donadoni, Ciro Ferrara, Paolo Maldini, Roberto Mancini. E esta geração conseguiu um desempenho relativamente bom na Euro, indo às semifinais. Mesmo assim, não era segredo: o objetivo era o tetracampeonato, na Copa do Mundo de 1990, sediada em casa.
E o time para a Copa prometia: com a base já vista na Euro, teria ainda a novidade de Roberto Baggio - e a ótima surpresa que foi Salvatore "Totò" Schillaci. Os avanços fase a fase foram empolgando a torcida, e alimentando o sonho do título. Entretanto, uma semifinal tensa contra a Argentina foi decidida nos chutes da marca do pênalti. Donadoni e Aldo Serena perderam suas cobranças. E a Itália viu o fim do sonho. Vicini veria o fim de sua passagem dali a dois anos, quando atingiu novo ponto de baixa: o time não passou das Eliminatórias para a Eurocopa de 1992.
Um vice honroso
Foi a hora de Arrigo Sacchi. Ele, que vinha a bordo de um esplendoroso Milan, ganhou a tarefa de conduzir a Azzurra para a Copa de 1994. E o fez, mesmo que a geração já desse sinais de envelhecimento. Tanto que passou por vários momentos dramáticos: a derrota para a Irlanda, no primeiro jogo; as oitavas de final, contra a Nigéria, quando Roberto Baggio salvou o time a dois minutos do encerramento do jogo; e até as quartas, quando o mesmo Baggio fez o gol da vitória contra a Espanha, novamente no antepenúltimo minuto de jogo.
Tudo isso foi feito com um time que se esfalfava, tendo em Roberto Baggio e Baresi dois ícones que passaram por contusões ao longo da Copa. Mesmo assim, o time conseguiu chegar à final contra o Brasil. Novo teste de resistência, com os 120 minutos, mais os pênaltis. Com tal cenário, o vice-campeonato foi bastante honroso.
Todavia, novamente um técnico italiano não teve êxito na mudança de geração. Já introduzindo Alessandro del Piero entre os 22 convocados para a Eurocopa de 1996, Sacchi viu a Itália ser desclassificada na primeira fase. E caiu, dando lugar a Cesare Maldini.
Apenas para manter a tradição
Seguiram-se, então, participações que, se não foram de êxito, serviram para manter a tradição da Itália. Exemplo disso foram as quartas de final, na Copa de 1998: foi decepcionante, mas a derrota nos pênaltis para a França dava à despedida italiana o status de "nobre".
Então, houve uma participação que aumentou a mística italiana: a Euro 2000, sob o comando de Dino Zoff. A bem da verdade, o país seguiu sem sobressaltos por primeira fase e quartas de final. Houve dramaticidade apenas nas semifinais, contra a Holanda, país-sede: a seleção teve dois pênaltis contrários, viu Francesco Toldo defender um e o outro ir para a trave, e conseguiu a vitória nos pênaltis, afinal.
Porém, a história continuou. E duas eliminações doídas foram a senha de que algo precisava ser mudado, ambas com Giovanni Trappatoni como técnico: a queda nas oitavas de final da Copa de 2002, para a Coreia do Sul - ainda que esta tenha vindo com a arbitragem controversa do equatoriano Byron Moreno -, e a eliminação na primeira fase da Eurocopa de 2004.
Nova crise. E novo título
Marcello Lippi chegou, então, com a tarefa de levar o país à Copa de 2006. Conseguiu. Mas, como em 1982, o país chegou para o Mundial da Alemanha abalado por um escândalo de arbitragem, o Calciopoli. Como em 1982, o time se fechou, fortalecendo o grupo. Contudo, diferentemente daquele Mundial em que o tricampeonato foi conquistado, o time passou sem problemas por primeira fase.
Porém, nas oitavas de final, o primeiro sintoma de drama: uma vitória conseguida nos acréscimos, contra a Austrália, a bordo de um pênalti duvidoso. Nas quartas, novo respiro, com triunfo fácil contra a Ucrânia. Mas, nas semifinais, a tensão contra a Alemanha foi quase irrespirável. Daí, a alegria que explodiu de modo quase irrefreável com os gols de Fabio Grosso e Del Piero que deram a vaga na final.
E o time, afinal, chegou à final contra a França. Novo jogo bastante travado e preso, incluindo a expulsão de Zidane. E a explosão, que veio com os pênaltis e a chegada do tetracampeonato. Mais uma vez, o cenário interno do futebol italiano foi reanimado com uma vitória numa Copa do Mundo. E parecia ter bastado para Marcello Lippi, que deu lugar a Roberto Donadoni.
Mas a participação na Eurocopa de 2008 foi opaca, e Donadoni acabou caindo, forçando a volta de Marcello Lippi. Que foi alvo de novas críticas, ao apostar em jogadores considerados velhos. O que faz com que a Itália chegue em baixa para a Copa de 2010. Resta saber se isso significará uma nova ressurreição, com o título.
Alcunhas Azzurri , Squadra Azzurra
Site
http://www.figc.it/
Fonte
http://www.trivela.com/Conteudo.aspx?secao=54&id=21871
E, enfim, veio o primeiro jogo da seleção italiana: no dia 15 de maio de 1910, uma goleada por 6 a 2 sobre a França inaugurava a história da Squadra Azzurra - apelido dado por sua notável camisa azul. O curioso da partida é que, ao final, com o resultado positivo, os torcedores atiraram maços de cigarro aos jogadores. Outra particularidade: no time comandado por uma comissão técnica (um fato pitoresco, que foi comum na seleção italiana até a década de 1960), não estavam presentes jogadores do Pro Vercelli, o maior time italiano da década.
Em 1912, surgiu na seleção aquele que, talvez, foi o mais importante personagem da primeira fase de sua história: Vittorio Pozzo. Vindo de uma família abastada, Pozzo chegou a atuar por Grasshopper, na Suíça, e Torino, até que assumiu pela primeira vez a Itália no já citado 1912. Depois, a equipe foi sendo comandada por comissões técnicas, até 1924, quando Pozzo voltou.
Mas o nativo de Turim também não durou, e seria sob o comando de Augusto Rangone que a equipe conseguiu sua primeira aparição de sucesso: a medalha de bronze no torneio olímpico de futebol de 1928, nos Jogos de Amsterdã, conquistada com uma goleada por 11 a 3 sobre o Egito. Carlo Carcano comandaria o time dali até 1929, quando Pozzo foi contratado, em caráter definitivo, para treinar a seleção - sem ganhar remuneração.
Recebendo plena confiança do governo, já sob comando de Benito Mussolini, Pozzo teve carta branca para implementar várias de suas ideias, como o "Metodo" - nada mais do que a utilização da adaptação do 2-3-5 que já vinha fazendo sucesso na Inglaterra, com o Arsenal de Herbert Chapman - e o uso dos "oriundi", jogadores nascidos em outro país e descendentes de italianos, que passaram a defender a Azzurra.
Rapidamente, as ideias de Pozzo deram resultado: já em 1930, veio a conquista da Copa Dr. Gerö, torneio pioneiro reunindo seleções da Europa Central. Todavia, houve quedas: em 1932, derrotas para Áustria e Tchecoslováquia levaram Pozzo a mudar a equipe, afastando jogadores como Adolfo Baloncieri, capitão da equipe.
Mas, afinal de contas, o ideário de Pozzo deu certo onde tinha de dar: nas Copas do Mundo. Favorecido por uma boa geração de jogadores, que contava com valores como Angelo Schiavio, Giuseppe Meazza e Raimundo Orsi - além de "oriundi" como os argentinos Attilio Demaria, Luis Monti e Enrique Guaita -, Pozzo levou a seleção à conquista do Mundial jogado em casa, em 1934.
Em 1935, veio nova conquista na Copa Dr. Gerö. No ano seguinte, quando o time chegou para a disputa do torneio olímpico de futebol, nos Jogos de Berlim, a equipe já contava com uma sequência admirável de resultados: desde outubro de 1932, a equipe só fora derrotada por Áustria (2 a 1, pela Copa Dr. Gerö) e Inglaterra, (3 a 2, em amistoso muito concorrido, conhecido como "A Batalha de Highbury").
Para a Olimpíada, Pozzo montou uma equipe que já contava com gente que ficaria para a Copa de 1938, como Alfredo Foni, Pietro Rava e Ugo Locatelli. Além disso, ainda havia apostas como Annibale Frossi, atacante míope encontrado pelo técnico na Serie B italiana. Resultado: medalha de ouro, com vitória sobre a Áustria na prorrogação (com dois gols de Frossi). E o favoritismo para o bicampeonato mundial, em 1938, só era mais solidificado.
E a Azzurra chegou para o Mundial da França, dali a dois anos, com um time bastante fortalecido. Aos veteranos de 1934, como Eraldo Monzeglio e Giuseppe Meazza, somavam-se talentos como Silvio Piola, outro atacante letal na área. E a Itália conquistou o bicampeonato, com a vitória por 4 a 2 sobre a Hungria, na final. Era fato: o trabalho de Vittorio Pozzo levara a Itália a ser consagrada como a seleção de maior sucesso, na época.
Porém, também era fato de que o trabalho de Pozzo contara com bastante apoio do fascismo - mesmo sem ser relacionado diretamente com Mussolini, Pozzo trabalhava com um fascista de primeira hora, o general Giorgio Vaccaro. E, por sugestão de Pozzo, a equipe passara a fazer a saudação fascista, antes dos jogos. Logo, não impressiona que a derrota na Segunda Guerra Mundial tenha representado duro baque para o futebol italiano.
Trabalho derrubado a jato
A Itália continuou fazendo amistosos até 1942. Depois, o recrudescimento da guerra forçou a interrupção, até 1946. Ainda com Pozzo, a seleção passou por uma reformulação. E a base que surgiria daquela mudança seria formada por jogadores que, em sua maioria, vinham do "Il Grande Torino", tetracampeão italiano entre 1946 e 1949.
Dos Grenás saía grande parte do novo time: gente como o goleiro Valerio Bacigalupo, Romeo Menti e, principalmente, o atacante Valentino Mazzola, apontado como o grande talento do futebol italiano no fim da década de 1940. Nem chega a impressionar que a maior goleada da história da seleção tenha saído nessa época: um 9 a 0 sobre os Estados Unidos, no dia 2 de agosto de 1948.
Porém, aquela manutenção relativamente exitosa do trabalho de Pozzo sofreu dois duros golpes em 1949. Nem tanto com a saída do técnico - que tornou-se jornalista do diário La Stampa. Mas principalmente com a tragédia de Superga, acidente aéreo que vitimou todo o Torino que servia de base para a Azzurra. O trauma foi tamanho que a delegação italiana que viajou ao Brasil, para a Copa de 1950, fez o trajeto de navio, com temor de nova queda de avião.
E mesmo que o novo técnico, Ferruccio Novo, tenha conseguido repor o vazio provocado pela ausência dos jogadores do Torino com novos talentos, como os atacantes Giampiero Boniperti e Ermes Muccinelli, ambos da Juventus - que também provinha o goleiro Lucidio Sentimenti -, o time não passou da primeira fase em 1950.
Estava iniciada uma fase de longo ostracismo para a Azzurra. Em 1954, a equipe não conseguiu superar a Suíça, e ficou novamente na primeira fase de uma Copa - ainda que continuasse contando com Boniperti e Muccinelli. Quatro anos mais tarde, um vexame: a equipe sequer passou das Eliminatórias, perdendo a vaga no Mundial para a Irlanda do Norte.
Sob o comando de Paolo Mazza e Giovanni Ferrari (um dos integrantes dos times campeões mundiais de 1934 e 1938), a equipe conseguiu classificar-se para a Copa de 1962. E até tinha um time bem formado: somavam-se aos talentos nativos, como Giovanni Trappatoni, Cesare Maldini e Giacomo Bulgarelli, uma nova onda de "oriundi", como os brasileiros José "Mazola" Altafini e Angelo Sormani e o argentino Omar Sivori. No entanto, nada deu certo novamente, e a equipe não foi páreo para Alemanha e Chile, no grupo 2. Mais uma eliminação na primeira fase.
Em Eurocopas, a situação não melhorava: a Azzurra não participara do torneio de 1960, e fora eliminada pela União Soviética, em 1964. Mas só se viu que tudo chegara a um ponto de mudança necessária em 1966: a eliminação para a Coreia do Norte, na primeira fase da Copa do Mundo, representou talvez o grande vexame da história da seleção italiana. O técnico Edmondo Fabbri tornou-se um pária, e o retorno para o país foi feito debaixo de críticas pesadas. O drama havia se tornado muito grande.
A primeira grande reação
A mudança começou em 1967, com a chegada de Ferruccio Valcareggi para ser o novo técnico. E Valcareggi pôde contar com uma base de jogadores sedenta por reação: Luigi Riva chegava para se unir a Gianni Rivera, Giorgio Ferrini, Sandro Salvadore, Giacinto Facchetti, Tarcisio Burgnich e Bulgarelli.
Deu resultado logo em 1968: com a fase final realizada na própria Itália, a equipe teve sorte nas semifinais, ao ser sorteada contra a União Soviética, após empate em 120 minutos de jogo. E, nas decisão contra a Iugoslávia, após nova igualdade contra a Iugoslávia, com prorrogação, o time fez 2 a 0, em partida de desempate. Era o primeiro título de vulto, após a Copa de 1938.
Prestigiado, Valcareggi conseguiu levar a equipe para a Copa de 1970. E o time novamente teve desempenho bastante honroso: com a mesma geração, passou por desafios como a semifinal histórica contra a Alemanha, e chegou à final contra o Brasil. Foi impossível conquistar o título, mas a autoestima e a fama já haviam sido recuperada.
Todavia, novamente, a geração que reergueu a Azzurra começou a dar sinais de fastio. E, mesmo que tenha feito uma boa campanha nas Eliminatórias, além de bons resultados nos amistosos, o time não foi páreo para Argentina e Polônia, na Copa de 1974. Assim como oito anos antes, uma eliminação na primeira fase fazia com que novos ares fossem necessários.
Já em 1974, logo após a Copa Fulvio Bernardini foi contratado como o comandante de uma nova fase. Mas ele não durou até o ano seguinte. A tarefa de reconstrução ficaria com Enzo Bearzot.
Crise interna. Salva pelo esplendor externo
Bearzot começou seu trabalho com solavancos: teve de encarar uma derrota por 4 a 1 para o Brasil, em 1976 (como na final da Copa de havia seis anos atrás), na decisão do Torneio do Bicentenário dos Estados Unidos. Mesmo assim, conseguiu fazer a transição de gerações, trazendo à seleção gente como Gaetano Scirea, Antonio Cabrini, Marco Tardelli, Roberto Bettega e Paolo Rossi. Foi com eles que a seleção chegou para a Copa de 1978. Não conseguiu grande coisa: ficou na quarta posição, e veteranos como Dino Zoff foram dados como acabados. Mas já era um começo.
Na Eurocopa de 1980, sediada em casa, novamente o resultado foi opaco: apenas uma quarta posição, após derrota para a Tchecoslováquia, na decisão do terceiro lugar. Entretanto, os desempenhos da seleção ficaram em segundo plano, diante da profunda crise de credibilidade por que o futebol transalpino passou, após o escândalo de manipulação de resultados intitulado "Totonero", pela relação com o Totocalcio, a loteria esportiva italiana.
Paralelamente a isso, a imprensa insistia nas fortes críticas contra a seleção. Enzo Bearzot, por sua vez, fortalecia o espírito de grupo dos jogadores italianos, além de estimular um estilo de jogo mais ofensivo do que o tradicional "catenaccio". E foi nesse clima que a equipe chegou à Copa de 1982. Parecia que não daria certo: três empates na primeira fase do Mundial fizeram com que as críticas se tornassem ainda mais virulentas.
Mas a equipe - que contava com boa parte dos que fizeram a renovação para 1978, mais o veterano Dino Zoff - persistiu. Fechou-se ainda mais para o ambiente externo. O resultado: um time bastante determinado, que passou por Brasil e Argentina, no grupo da segunda fase, venceu a Polônia, nas semifinais, e, já com o clima emocional baseado num otimismo quase indestrutível, venceu a Alemanha, na decisão, para conquistar um consagrador tricampeonato mundial. Que ajudou a recuperar o futebol italiano.
Mais uma troca de guarda
A sensação de que Bearzot não conseguiria manter seu trabalho por muito mais tempo ficou forte com a desclassificação nas Eliminatórias para a Eurocopa de 1984. E, para a Copa de 1986, a geração vitoriosa de quatro anos antes - Cabrini, Tardelli, Bruno Conti, Paolo Rossi, Scirea, Altobelli - chegou com vários problemas físicos. E a nova geração, personificada por Gianluca Vialli, não havia conseguido se estabelecer completamente. Resultado: um time irregular, que viu seu caminho na Copa interrompido pela França, que venceu por 2 a 0, nas oitavas de final.
Era hora de mudar. E Bearzot abriu caminho para Azeglio Vicini, que levou o time à Eurocopa de 1988. Vicini conseguiu fazer com que os novatos tomassem conta de seu time: Vialli já tinha a seu lado Luigi de Agostini, Fernando de Napoli, Giuseppe Giannini, Roberto Donadoni, Ciro Ferrara, Paolo Maldini, Roberto Mancini. E esta geração conseguiu um desempenho relativamente bom na Euro, indo às semifinais. Mesmo assim, não era segredo: o objetivo era o tetracampeonato, na Copa do Mundo de 1990, sediada em casa.
E o time para a Copa prometia: com a base já vista na Euro, teria ainda a novidade de Roberto Baggio - e a ótima surpresa que foi Salvatore "Totò" Schillaci. Os avanços fase a fase foram empolgando a torcida, e alimentando o sonho do título. Entretanto, uma semifinal tensa contra a Argentina foi decidida nos chutes da marca do pênalti. Donadoni e Aldo Serena perderam suas cobranças. E a Itália viu o fim do sonho. Vicini veria o fim de sua passagem dali a dois anos, quando atingiu novo ponto de baixa: o time não passou das Eliminatórias para a Eurocopa de 1992.
Um vice honroso
Foi a hora de Arrigo Sacchi. Ele, que vinha a bordo de um esplendoroso Milan, ganhou a tarefa de conduzir a Azzurra para a Copa de 1994. E o fez, mesmo que a geração já desse sinais de envelhecimento. Tanto que passou por vários momentos dramáticos: a derrota para a Irlanda, no primeiro jogo; as oitavas de final, contra a Nigéria, quando Roberto Baggio salvou o time a dois minutos do encerramento do jogo; e até as quartas, quando o mesmo Baggio fez o gol da vitória contra a Espanha, novamente no antepenúltimo minuto de jogo.
Tudo isso foi feito com um time que se esfalfava, tendo em Roberto Baggio e Baresi dois ícones que passaram por contusões ao longo da Copa. Mesmo assim, o time conseguiu chegar à final contra o Brasil. Novo teste de resistência, com os 120 minutos, mais os pênaltis. Com tal cenário, o vice-campeonato foi bastante honroso.
Todavia, novamente um técnico italiano não teve êxito na mudança de geração. Já introduzindo Alessandro del Piero entre os 22 convocados para a Eurocopa de 1996, Sacchi viu a Itália ser desclassificada na primeira fase. E caiu, dando lugar a Cesare Maldini.
Apenas para manter a tradição
Seguiram-se, então, participações que, se não foram de êxito, serviram para manter a tradição da Itália. Exemplo disso foram as quartas de final, na Copa de 1998: foi decepcionante, mas a derrota nos pênaltis para a França dava à despedida italiana o status de "nobre".
Então, houve uma participação que aumentou a mística italiana: a Euro 2000, sob o comando de Dino Zoff. A bem da verdade, o país seguiu sem sobressaltos por primeira fase e quartas de final. Houve dramaticidade apenas nas semifinais, contra a Holanda, país-sede: a seleção teve dois pênaltis contrários, viu Francesco Toldo defender um e o outro ir para a trave, e conseguiu a vitória nos pênaltis, afinal.
Porém, a história continuou. E duas eliminações doídas foram a senha de que algo precisava ser mudado, ambas com Giovanni Trappatoni como técnico: a queda nas oitavas de final da Copa de 2002, para a Coreia do Sul - ainda que esta tenha vindo com a arbitragem controversa do equatoriano Byron Moreno -, e a eliminação na primeira fase da Eurocopa de 2004.
Nova crise. E novo título
Marcello Lippi chegou, então, com a tarefa de levar o país à Copa de 2006. Conseguiu. Mas, como em 1982, o país chegou para o Mundial da Alemanha abalado por um escândalo de arbitragem, o Calciopoli. Como em 1982, o time se fechou, fortalecendo o grupo. Contudo, diferentemente daquele Mundial em que o tricampeonato foi conquistado, o time passou sem problemas por primeira fase.
Porém, nas oitavas de final, o primeiro sintoma de drama: uma vitória conseguida nos acréscimos, contra a Austrália, a bordo de um pênalti duvidoso. Nas quartas, novo respiro, com triunfo fácil contra a Ucrânia. Mas, nas semifinais, a tensão contra a Alemanha foi quase irrespirável. Daí, a alegria que explodiu de modo quase irrefreável com os gols de Fabio Grosso e Del Piero que deram a vaga na final.
E o time, afinal, chegou à final contra a França. Novo jogo bastante travado e preso, incluindo a expulsão de Zidane. E a explosão, que veio com os pênaltis e a chegada do tetracampeonato. Mais uma vez, o cenário interno do futebol italiano foi reanimado com uma vitória numa Copa do Mundo. E parecia ter bastado para Marcello Lippi, que deu lugar a Roberto Donadoni.
Mas a participação na Eurocopa de 2008 foi opaca, e Donadoni acabou caindo, forçando a volta de Marcello Lippi. Que foi alvo de novas críticas, ao apostar em jogadores considerados velhos. O que faz com que a Itália chegue em baixa para a Copa de 2010. Resta saber se isso significará uma nova ressurreição, com o título.
Alcunhas Azzurri , Squadra Azzurra
Site
http://www.figc.it/
Fonte
http://www.trivela.com/Conteudo.aspx?secao=54&id=21871