De um time de “nada” até a Copa da Alemanha, foram poucas as reais conquistas dos marfinenses no futebol. Desde a independência do país, em 1960, o primeiro título veio apenas em 1992, quando venceram a Copa das Nações Africanas pela primeira vez, derrotando nos pênaltis a seleção de Gana.
Mais uma vítima da revolução industrial europeia, a Costa do Marfim foi colônia francesa até a década de 60. Em agosto deste ano, conquistou efetivamente a liberdade e, uma década depois, se envolvia na política do continente, tentando negociar o fim do apartheid na África do Sul. O presidente Félix Houphouët-Boigny, eleito no momento da independência, ficou no poder até sua morte, em 1993, mesmo resistindo às crises, instabilidades políticas e tentativas de golpe de estado.
E não conseguiram derrubar o primeiro presidente, o segundo não resistiu. Henri Konan Bedié assumiu após a morte do seu antecessor, e foi confirmado no cargo dois anos depois. Porém, em 99 o general Robert Guel comandou o primeiro golpe de estado já visto na nação. A sorte deste último não duraria muito também: em 2002, foi assassinado durante um levantamento liderado pelo Movimento Patriótico da Costa do Marfim em 2002.
Vale destacar que chegou até a existir ameaça das autoridades locais de não levar o país para a Copa de 2006, caso não fosse estabelecida de vez a paz no país. O país se dividiu em dois por uma rebelião armada que ocupou todo o norte do país, e, no ano de 2002, ex-soldados se mobilizaram para lutar contra a exclusão das pessoas presas na região. Em menos de três meses, a situação se estabilizou e houve finalmente eleições presidenciais, quando Laurent Gbagbo assumiu o poder onde está até hoje.
Antes da independência, no dia 6 de agosto de 60, a Costa do Marfim realizou sua primeira partida de futebol. Em abril daquele ano, os Elefantes derrotaram o time do Benin por 3 a 2. No mesmo ano, foi fundada a federação marfinenses de futebol, filiando-se à Fifa no ano seguinte, assim como ao CAF. Desde então, passou a disputar especialmente os campeonatos internacionais oferecidos pela CAF, tendo tido sua pior derrota em maio de 1971, para Gana, por 6 a 2.
Foi apenas em 1992 que os marfinenses chamaram a atenção mundial, ao conquistar o inédito título continental. No torneio sediado no Senegal, os Elefantes venceram os ganenses, que tinham Abedi Pelé, após 21 cobranças de pênalti – os campeões comemoraram após o gol de Abedi Pelé, que completou a marca de 11 a 10 para seu time. O goleiro Alain Gouaméné também foi destaque, e vale menção.
Mas, como nem sempre a fase é boa, a Costa do Marfim deixou de ter bom desempenho por muitos anos e, de 1992 a 2004, ficou qualquer campanha de expressão, não tendo passado da primeira fase da Copa das Nações Africanas nas três edições seguintes, e sem nem ter conseguido se classificar em 2004, quando o torneio foi na Tunísia.
É a partir de 2005 que os Elefantes passam a ser realmente respeitados e temidos. Treinador pelo francês Henri Michel, os marfinenses despontaram como uma das equipes mais fortes do continente africano com a classificação para Mundial da Alemanha de 2006.
Eliminados ainda na primeira fase, com uma derrota logo de cara para a Argentina por 2 a 1 (gols de Hernán Crespo e Javier Saviola para os albicelestes, e Didier Drogba para os marfinenses), outra para a Holanda pelo mesmo placar (Robin van Persie e Ruud van Nistelrooy marcaram para os holandeses, e Bakari Koné descontou), tendo, porém, vencido o último confronto e surpreendendo. Contra a Sérvia e Montenegro os Elefantes tiveram incrível reação depois de estarem perdendo por 2 a 0, e foram conduzidos por dois gols de Aruna Dindane e um de Bonaventure Kalou no final, de pênalti, e fizeram 3 a 2 sobre os adversários.
Depois do Mundial, a equipe passou a ser comandada pelo alemão Ulrich Stielike, num time que tinha diversos jogadores que faziam sucesso no exterior: Didier Drogba (Chelsea), Abib Kolo Touré e Emmanuel Eboué (Arsenal), Didier Zokora (Tottenham), Salomon Kalou (Chelsea), Bonaventure Kalou (Heerenveen), Aruna Dindane (Lens), Kanga Akalé (Olympique de Marseilha) e ainda Yaya Touré (Barcelona).
O alemão, porém, saiu do cargo em 2008, e atualmente os Elefantes são comandados pelo bósnio Vahid Halilhodzic, que os levou à classificação antecipada para o Mundial da África do Sul, com um empate em 1 a 1 contra o Malaui. Entrando no segundo tempo, Drogba balançou as redes com apenas dois minutos em campo, assegurando o empate que deu ao seu time a classificação no grupo E.
Depois da eliminação no Mundial de 2006, o técnico da época Henri Michel lamentou: “a única coisa que nos falta é experiência”. As derrotas iniciais foram aceitáveis e, na verdade, a vitória de virada sobre a Sérvia e Montenegro é que foi quase inacreditável, além de memorável, corajosa e surpreendente (foi a primeira vez desde 1982 que um time que perdi por dois gols de diferença conseguia uma virada e vitória em Copa).
No elenco atual, porém, as esperanças são outras: depois de já carregar um Mundial nas costas, Drogba, Kolo Touré e Eboué são as peças-chave do grupo, considerando ainda que o elenco a viajar para a África do Sul deve ter 2/3 de jogadores que estiveram na Alemanha em 2006.
A esperança dos jogadores é ao menos passar da primeira fase, com sonho de alcançar até mesmo uma semifinal. A aposta é a força física característica dos africanos, em qualquer posição.
Apesar do empate que deu a classificação, os marfinenses chegaram ao Mundial de 2010 marcados por uma tragédia em sua campanha: a morte de 22 pessoas no incidente em jogo contra o Malauí, pelas Eliminatórias da Copa, no estádio Houphouet-Boigny em Abidjan.
Na ocasião de março deste ano, centenas de torcedores que ficaram de fora do jogo classificatório tentaram forçar a entrada no portão do estádio, gerando um empurra-empurra que culminou não só nas mortes, mas também deixou cerca de 155 feridos. Segundo as reportagens, pessoas com ingressos teriam se apressado para entrar e não perder o início do jogo, enquanto outros ainda tentavam forçar a entrada, o que fez com que a polícia reagisse com gás lacrimogêneo contra o tumulto, gerando pânico.
Apesar da tragédia, os jogadores em campo não tomaram conhecimento da situação, e a partida continuou normalmente, com a vitória de goleada dos marfinenses por 5 a 0.
Site
http://www.fif-ci.com/
Fonte
http://trivela.uol.com.br/Conteudo.aspx?secao=54&id=21274