
O nome foi sugerido por Gil Loureiro, que afirmou na ocasião: “Gaúcho, pois somos gaúchos, povo guerreiro, determinado, batalhador, forte, e o nosso clube, além do nome, terá a alma gaúcha. Aparteando seu irmão, Alfredo recomendou as cores verde e branca". O trecho é do livro “O mais querido da cidade”, de autoria do escritor Marco Antonio Damian, que conta a trajetória do clube de 1918 até 2000.
Foi no Estádio Wolmar Salton - construído em 1957 - que o Gaúcho conheceu seus melhores momentos, especialmente aos tempos dos famosos irmãos Pontes e dos inesquecíveis clássicos contra o rival 14 de Julho (hoje Passo Fundo). Em 1986, Gaúcho e 14 fizeram a fusão, dando origem ao Esporte Clube Passo Fundo.
A equipe formada pela direção do Esporte Clube Passo Fundo, para disputar o campeonato da Segunda divisão teve como primeiro técnico Raul Tagliari, que deixou o clube ainda na primeira fase, foi substituído por Altino Nascimento e depois Paulo Sérgio Poletto. Na equipe formada, um jogador se transformaria em grande ídolo da torcida do Passo Fundo. Cláudio Freitas, goleador do campeonato e jogador decisivo na campanha comandada por Poletto que classificou o Passo Fundo para a primeira divisão, num empate em zero a zero com o São José em Porto Alegre. Do grupo campeão, fizeram parte os seguintes jogadores: Mazaropi, Donizete, Betão, Ximbica, Darcy Munique (capitão), Zé Ricardo, José, Sérgio Roth, Rebechi, Walmor, Doval, Castor, Flávio, Volmir, Cláudio Freitas, Zé Carlos, Valduíno, Alfredo, Leonel, Anchieta e Almir.
E quem não lembra dos duros jogos contra Grêmio e Internacional, que suavam sangue para sair de lá com um bom resultado? O que dizer dos valentes e folclóricos irmãos Pontes que ganharam fama de jogadores mais violentos da história do futebol brasileiro? O currículo não desmente: Daison Pontes foi punido por tudo que é imaginável, até doping.
Sua maior proeza aconteceu em 1974, em Passo Fundo. O juiz José Luis Barreto teve a coragem de marcar um pênalti contra o Gaúcho, em pleno Estádio Wolmar Salton. Indignado, Daison chamou o árbitro de crioulo. E Barreto teria retrucado: “Se te pego fora de Passo Fundo, te expulso”. E Daison não deixou por menos: “Se me expulsar te quebro a cara”. Dito e feito, semanas depois os dois se encontraram num jogo em Santa Maria. E promessas cumpridas. Barreto expulsou Daison e este deu um soco na cara do juiz e um pontapé na barriga. Foi suspenso por 18 meses. Retornou em 1976 somente para encerrar a carreira.
João Pontes foi o companheiro ideal da furiosa zaga, igualmente mestre de indisciplina e a exemplo do irmão Daison foi punido por tudo, de doping a agressão, num total de 18 punições. Apenas como curiosidade, publico as expulsões dos irmãos Pontes.
Jogar em Passo Fundo na época dos irmãos Pontes era um verdadeiro teste de coragem. Daison garantia que um time para botar faixa de campeão precisava passar por Passo Fundo. O ex-zagueiro, 68 anos, hoje funcionário municipal aposentado não acha que tenha sido um jogador violento, apenas não admitia desrespeito.
O jornal “Zero Hora”, de Porto Alegre, publicou uma série intitulada “O tempo em que havia guerra”, contando a história do futebol gaúcho. Num trecho do excelente texto: “No futebol de Passo Fundo, Ele era a lei”, de Mário Marcos de Souza, está explicado o que era desrespeito, no mundo dos irmãos Pontes: podia ser um olhar, um sorriso na hora errada, firulas ou uma cuspida, como o atacante Nestor Scotta ousou dar em um jogo Grêmio e Gaúcho. Argentino, habituado a batalhas em seu país, Scotta entendeu no fim do jogo que complicado mesmo era jogar em Passo Fundo.
Pode ser até lenda. Mas me contaram e juraram que é verdade, que o pai dos irmãos Pontes costumava assistir os jogos do Gaúcho, sentado em cima do muro do Wolmar Salton. E se o juiz ousasse marcar um pênalti contra o seu time, o revólver aparecia rápido em suas mãos e uma pergunta ecoava por todo o estádio: “Tu marcou foi falta contra eles, não é mesmo?”.
Mas não é só dos irmãos Pontes, que o Gaúcho tem histórias para contar. Bebeto, o “canhão da serra”, um dos mais importantes jogadores do futebol gaúcho em todos os tempos, um dia vestiu e honrou a camisa verde e branca. Em 1965, estreou no 14 de Julho, de Passo Fundo. Dois anos depois foi para o Gaúcho, onde se consagrou e conquistou títulos. Foi por duas vezes artilheiro do Gauchão, defendendo o Gaúcho, 1973 e 1975, ambas com 13 gols. Em 1984 foi artilheiro do Campeonato Gaúcho da Série B, com 19 gols.
Títulos
O S.C. Gaúcho em seus 90 anos conquistou alguns títulos expressivos: Campeonato Gaúcho da 2ª Divisão, 3 vezes (1966, 1977 e 1984); Vice-Campeonato Gaúcho 2ª Divisão, 2 vezes (1965 e 2005); Campeonato Gaúcho 3ª Divisão (2000); Vice-Campeonato da Copa FGF (2004); Campeonato Citadino de Passo Fundo, 15 vezes (1926, 1927, 1928, 1938, 1939, 1948, 1949, 1950, 1954, 1961, 1963, 1964, 1965, 1966 e 1967); Copa Everaldo Marques da Silva (1970).
Decadência
Após quase 90 anos de história (completados em 12/05/2008), no ano passado, a cidade de Passo Fundo viu sucumbir um dos mais tradicionais clubes da região, o Sport Club Gaúcho. O acúmulo de dívidas levou o patrimônio do clube a leilão. Os bens foram arrematados pelo advogado da família de um jovem, que se afogou na piscina do clube em 1996 e ficou tetraplégico e necessitando de tratamento caro.
Como o S.C. Gaúcho não pagou as prestações acertadas, a sede foi adquirida por R$ 1,1 milhão, quantia baixíssima se comparada às estimativas que apontavam para um valor cinco vezes maior. Os bens móveis que lá estavam foram levados a depósito judicial, permanecendo em poder do clube apenas troféus e documentos. A ação movida pela família era de R$ 1,3 milhão. Após a realização do leilão, a intenção era de colocar a área à venda, o que ainda não aconteceu.
Nesse meio tempo o município conseguiu o tombamento provisório do campo e das arquibancadas do estádio. A estrutura do clube, localizada na rua Moron, bairro Boqueirão, foi totalmente destruída. O prédio da secretaria, as piscinas, tudo foi posto abaixo e abandonado.
O portão principal foi lacrado e ninguém mais, além dos proprietários foi autorizado a entrar no local. Na semana passada, porém, após receber informações de que o antigo clube estaria tomado por moradores de rua, a equipe de “O Nacional” foi até o Gaúcho. Apesar da intensa movimentação, o portão principal encontrava-se arrombado.
Nos fundos a reportagem avistou uma parede toda queimada, o que segundo vizinhos aconteceu após mendigos acenderem fogueiras para se aquecerem do frio. Instantes após a chegada da reportagem, ainda no portão foi possível avistar pelo menos dois homens, sentados ao redor de uma mesa improvisada, próxima a muito lixo. Ao perceberem a presença de pessoas estranhas, os "habitantes", que dormem em salas que resistiram à destruição, estranharam a situação e a equipe foi obrigada a deixar o espaço. Segundo testemunhas, chega a cinco o número de moradores de rua que ficam lá à noite.
Lesado em seu patrimônio e abandonado pela maioria da sua torcida, o Sport Club Gaúcho, se eterniza apenas na memória de seus poucos verdadeiros torcedores. A escolinha de futebol do clube mantem-se ativa com cerca de quarenta meninos, e de certa forma mantém vivo o futebol do alvi-verde do Boqueirão, e assim como nós espera por dias melhores.
Estádio
Estádio Wolmar Salton
Capacidade 6000
Mascote: Periquito do Boqueirão
Fonte: http://futeboldepassofundo.futblog.com.br e http://nilodiasreporter.blogspot.com